18 de set. de 2012

19/09 - Lembremos de Paulo Freire, o Patrono da Educação

Paulo Reglus Neves Freire (Recife, 19 de setembro de 1921  São Paulo, 2 de maio de1997) foi um educador e filósofo brasileiro. É Patrono da Educação Brasileira.
Paulo Freire é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogiamundial,[1] tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. A sua prática didática fundamentava-se na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição à por ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante: o educando criaria sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído; libertando-se de chavões alienantes, o educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado.
Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência política. Autor de Pedagogia do Oprimido, um método de alfabetização dialético, se diferenciou do "vanguardismo" dos intelectuais de esquerda tradicionais e sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como um modo de ser realmente democrático.
Em 13 de abril de 2012, foi sancionada a lei 12.612 que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.[2]
Foi o brasileiro mais homenageado da história: ganhou 41 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford

A Pedagogia da Libertação

Painel Paulo Freire no CEFORTEPE - Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional da Secretaria Municipal de Educação de Campinas-SP

Paulo Freire delineou uma Pedagogia da Libertação, intimamente relacionada com a visãomarxista do Terceiro Mundo e das consideradas classes oprimidas na tentativa de elucidá-las e conscientizá-las politicamente. As suas maiores contribuições foram no campo da educação popular para a alfabetização e a conscientização política de jovens e adultos operários, chegando a influenciar em movimentos como os das Comunidades Eclesiais de Base (CEB).

No entanto, a obra de Paulo Freire não se limita a esses campos, tendo eventualmente alcance mais amplo, pelo menos para a tradição de educação marxista, que incorpora o conceito básico de que não existe educação neutra. Segundo a visão de Freire, todo ato de educação é um ato político.

 

Principais Obras

 

  • 1959: Educação e atualidade brasileira. Recife: Universidade Federal do Recife, 139p. (tese de concurso público para a cadeira de História e Filosofia da Educação de Belas Artes de Pernambuco).
  • 1961: A propósito de uma administração. Recife: Imprensa Universitária, 90p.
  • 1963: Alfabetização e conscientização. Porto Alegre: Editora Emma.
  • 1967: Educação como prática da liberdade. Introdução de Francisco C. Weffort. Rio de Janeiro: Paz e Terra, (19 ed., 1989, 150 p).
  • 1968: Educação e conscientização: extencionismo rural. Cuernavaca (México): CIDOC/Cuaderno 25, 320 p.
  • 1970: Pedagogia do oprimido. New York: Herder & Herder, 1970 (manuscrito em português de 1968). Publicado com Prefácio de Ernani Maria Fiori. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 218 p., (23 ed., 1994, 184 p.).
  • 1971: Extensão ou comunicação?. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971, 93 p.
  • 1976: Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Tradução de Claudia Schilling, Buenos Aires: Tierra Nueva, 1975. Publicado também no Rio de Janeiro, Paz e terra, 149 p. (8. ed., 1987).
  • 1977: Cartas à Guiné-Bissau. Registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, (4 ed., 1984), 173 p.
  • 1978: Os cristãos e a libertação dos oprimidos. Lisboa: Edições BASE, 49 p.
  • 1979: Consciência e história: a práxis educativa de Paulo Freire (antologia). São Paulo: Loyola.
  • 1979: Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 112 p.
  • 1979: Multinacionais e trabalhadores no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 226 p.
  • 1980: Quatro cartas aos animadores e às animadoras culturais. República de São Tomé e Príncipe: Ministério da Educação e Desportos, São Tomé.
  • 1980: Conscientização: teoria e prática da libertação; uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 102 p.
  • 1981: Ideologia e educação: reflexões sobre a não neutralidade da educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
  • 1982: A importância do ato de ler (em três artigos que se completam). Prefácio de Antonio Joaquim Severino. São Paulo: Cortez/ Autores Associados. (26. ed., 1991). 96 p. (Coleção polêmica do nosso tempo).
  • 1982: Sobre educação (Diálogos), Vol. 1. Rio de Janeiro: Paz e Terra ( 3 ed., 1984), 132 p. (Educação e comunicação, 9).
  • 1982: Educação popular. Lins (SP): Todos Irmãos. 38 p.
  • 1983: Cultura popular, educação popular.
  • 1985: Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3ª Edição
  • 1986: Fazer escola conhecendo a vida. Papirus.
  • 1987: Aprendendo com a própria história (com Sérgio Guimarães). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 168 p. (Educação e Comunicação; v.19).
  • 1988: Na escola que fazemos: uma reflexão interdisciplinar em educação popular. Vozes.
  • 1989: Que fazer: teoria e prática em educação popular. Vozes.
  • 1990: Conversando com educadores. Montevideo (Uruguai): Roca Viva.
  • 1990: Alfabetização - Leitura do mundo, leitura da palavra (com Donaldo Macedo). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 272 p.
  • 1991: A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 144 p.
  • 1991: A Importância do Ato de Ler - em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez Editora & Autores Associados, 1991. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo, v 4)- 80 p.
  • 1992: Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (3 ed. 1994), 245 p.
  • 1993: Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d'água. (6 ed. 1995), 127 p.
  • 1993: Política e educação: ensaios. São Paulo: Cortez, 119 p.
  • 1994: Cartas a Cristina. Prefácio de Adriano S. Nogueira; notas de Ana Maria Araújo Freire. São Paulo: Paz e Terra. 334 p.
  • 1994: Essa escola chamada vida. São Paulo: Ática, 1985; 8ª edição.
  • 1995: À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d'água, 120 p.
  • 1995: Pedagogia: diálogo e conflito. São Paulo: Editora Cortez.
  • 1996: Medo e ousadia. Prefácio de Ana Maria Saul; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; 5ª Edição.
  • 1996: Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
  • 2000: Pedagogia da indignação – cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 134 p.
  • 2003: A África ensinando a gente (com Sérgio Guimarães). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 248 p.

 

    16 de set. de 2012

    Apague ela com um tijolo, diz a MTV - Assine agora e exija que a MTV ponha fim à parceria com o Testosterona imediatamente!


    Semíramis,
    Se você achava que o negócio da MTV era música, você se enganou: eles também curtem incentivar a violência.
    A MTV apoia e promove o Testosterona, um blog que humilha e promove a violência contra mulheres, gays e pessoas trans. Entre as postagens do Testosterona está um guia rápido para o estupro ("primeiro passo: apague ela com um tijolo") e uma lista de vantagens em se namorar uma travesti ("se você bater nela, ela não vai poder ir na delegacia das mulheres").
    A MTV se recusa a fazer algo a respeito. Na semana passada, eles emitiram um comunicado dizendo que o conteúdo do blog não reflete a opinião da emissora. Então por que continuam a promover um site tão perigoso? Ninguém sabe.
    O presidente da MTV Networks, Van Toffler, tem o poder de frear isso – e nós entregaremos sua assinatura diretamente a ele, pra que ele saiba o que a MTV anda aprontando no Brasil.
    Assine agora e exija que a MTV ponha fim à parceria com o Testosterona imediatamente!
    www.allout.org/pt/MTV
    O autor do Testosterona acusa seus críticos de não terem senso de humor. O que ele parece não entender é que suas ideias têm consequências muito reais.
    Em março, a Polícia Federal prendeu os autores de outro blog que incitava o ódio contra mulheres, gays e diversos grupos – eles eram parceiros do Testosterona e também postavam conteúdo no blog. Durante a investigação, a Polícia descobriu ainda que eles planejavam um massacre na Universidade de Brasília.
    Nessa semana, a Secretaria de Políticas para as Mulheres solicitou que o Ministério Público investigue o Testosterona por incitar o estupro e a violência. Mas ainda não foi o bastante para a MTV agir – nós podemos mudar isso!
    Assine a petição e vamos exigir que o presidente da MTV Networks, Van Toffler, deixe de patrocinar o Testosterona e seu discurso de ódio imediatamente.
    www.allout.org/pt/MTV
    Obrigado por apoiar a All Out e vamos em frente!
    Um abraço,
    Andre, Joe, Leandro, Sara, Tile, Wesley, e o restante da equipe da All Out.
    REFERÊNCIAS:
    Vídeo de humor sobre estupro pode ser alvo de investigação
    www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1146880-video-de-humor-sobre-estupro-pode-ser-alvo-de-investigacao.shtml
    MP pode investigar vídeo de humor que incita violência contra a mulher
    cbn.globoradio.globo.com/editorias/pais/2012/09/01/MP-PODE-INVESTIGAR-VIDEO-DE-HUMOR-QUE-INCITA-VIOLENCIA-CONTRA-A-MULHER.htm
    Dupla é presa suspeita de manter site de apologia a crimes contra negros, judeus e nordestinos
    noticias.r7.com/cidades/noticias/policia-federal-faz-operacao-contra-crimes-de-intolerancia-na-internet-20120322.html
    A All Out está colocando em contato muita gente de todos os cantos do planeta e de todas as identidades – lésbicas, gays, héteros, bissexuais, transexuais e travestis - e tudo no meio e além – para construir um mundo em que cada pessoa viva livremente e seja aceita pelo que é.
    Nosso endereço é:
    Purpose Foundation
    224 Centre St
    New York, NY 10013
    Copyright © 2012 AllOut.org, All rights reserved.

    .


    __________

    CONTRA O BULLYING NAS ESCOLAS DO RIO DE JANEIRO

    Car@,
    Acabei de saber que a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro  pode aprovar um projeto de lei homofóbico e discriminatório: a proposta é proibir a distribuição de qualquer material que fale sobre diversidade sexual nas escolas do Rio.
    Bolsonaro_all_large
    Apesar da força política que o filho de Jair Bolsonaro possui - o projeto passou em uma primeira leitura na semana passada - ainda temos a chance de dizer aos vereadores e vereadoras que votem CONTRA este projeto de lei na próxima votação que vai acontecer em breve.
    E foi por isso que eu assinei esta petição urgente, dizendo aos vereadores e vereadoras da cidade maravilhosa que votem contra este projeto de lei, que só irá contribuir para o aumento da violência e intolerância entre os jovens nas escolas. É de responsabilidade da Câmara dos Vereadores, representantes da população e eleitos por ela, que respeitem jovens LGBTs e que promovam o diálogo, a compreensão e a educação.
    Por favor, assine esta petição para não deixarmos que a homofobia seja institucionalizada no Rio de Janeiro.

    12 de set. de 2012

    II Jornada EaD: o futuro da arte


    Caso não esteja visualizando as imagens, acesse aqui
    II Jornada EaD: o futuro da arte
    II Jornada EaD: o futuro da arte
    II Jornada EaD: o futuro da arte
    II Jornada EaD: o futuro da arte
    II Jornada EaD: o futuro da arte


    __________ Informa��o do ESET NOD32 Antivirus, vers�o da vacina 7470 (20120912) __________

    A mensagem foi verificada pelo ESET NOD32 Antivirus.

    http://www.eset.com
    Caso não queira mais receber nossos emails, remova aqui.

    21 de ago. de 2012

    Índios homenageiam Darcy Ribeiro em cerimônia no Alto Xingu

     Um de nossos heróis mais contundentes e brilhantes, que lutou pela causa indígena e pela educação pública e de qualidade em nosso país se chama Darcy Ribeiro. Esse homem que passou sua vida lutando pelas causas sociais e indigenistas no Brasil, recebeu nos dias 18 e 19/08 uma justa homenagem dos índios Yawalapíti, no Alto Xingu (Mato Grosso) na tradicional cerimônia do Kuarup, uma festa de despedida e honra aos seus entes que desencarnaram.

    Edição do dia 21/08/2012

    Índios homenageiam Darcy Ribeiro em 



    cerimônia no 







    Alto Xingu

    Darcy Ribeiro dedicou parte da vida a defender os povos indígenas. Agora, foi homenageado em um dos rituais mais importantes entre as aldeias do Alto Xingu. Parentes e amigos participaram da cerimônia.

    André Curvello e Alex CarvalhoParque Indígena do Xingu, MT
    Um homem que dedicou parte da vida a defender os povos indígenas foi homenageado em um dos rituais mais importantes entre as aldeias do Alto Xingu. Parentes e amigos do antropólogo Darcy Ribeiro participaram da cerimônia, realizada pelos índios.
    Essa história começa quando o Sol ainda era gente. Depois que a mãe morreu, o Sol fez um ritual e a cerimônia passou a se chamar Kuarup. É uma das mais belas histórias dos povos que habitam o Parque Indígena do Xingu. Um lugar do Brasil Central onde o Cerrado e a Floresta Amazônica se encontram.
    Nosso voo tem como destino o Alto Xingu, no estado de Mato Grosso. De cima vemos um clarão, um círculo de terra. É a aldeia dos índios Yawalapíti. Um povo que se alimenta principalmente de peixe, do biju - que vem da mandioca - e também de muitas tradições.
    O Kuarup é uma delas. Principal cerimônia entre as aldeias do Alto Xingu, é feito só para aqueles que os índios consideram muito importantes. É o momento de se despedir dos mortos.
    Acompanhamos os últimos dias do ritual, que dura 10 meses. Dessa vez, são três homenageados. Dois líderes indígenas e um homem branco: Darcy Ribeiro.
    Escritor, educador, político, idealizador e reitor da Universidade de Brasília, etnólogo. Darcy Ribeiro teve muitas vidas em uma só. Mas foi como antropólogo e com os índios que ele mais se realizou e mais se encantou.
    "É a consagração do trabalho do professor Darcy. Eu acho que a maior homenagem que um homem público, um intelectual que dedicou grande parte de sua vida em defesa dos povos indígenas é receber essa homenagem", conta Paulo Ribeiro, presidente da Fundação Darcy Ribeiro.
    As flautas sagradas, os chocalhos e os cantos evocam as almas. Uma fila se forma. Para os povos que vivem no parque do Xingu, os espíritos dos mortos vão incorporar nesses troncos, cuidadosamente preparados.
    Paulo Ribeiro, sobrinho de Darcy, é arranhado: é o processo de purificação. Em um dos momentos mais importantes, mais emocionantes da cerimônia, a família e os amigos de Darcy Ribeiro choram diante do tronco que o representa. É hora de secar a tristeza através do choro.
    A noite chega. Os povos visitantes, todos do Alto Xingu, se juntam aos Yawalapíti. Agora são oito etnias diferentes, mais de 1,5 mil pessoas. A tristeza dá lugar à rivalidade. Começa a luta, que exige força, habilidade e respeito.
    "Isso é muito valorizado no Parque Indígena do Xingu. Então, isso é a nossa tradição, que a gente não vai deixar nunca acabar", conta Jair, índio Kuikuro.
    Os Yawalapíti saem como os grandes vencedores. E pensar que esse povo quase desapareceu. No fim da década de 50, eram apenas 12 índios.
    Preocupado com o possível desaparecimento dos povos indígenas do Centro-Oeste no começo dos anos 50, Darcy Ribeiro foi conversar com Getúlio Vargas. Para tentar convencer o então presidente, falou que a natureza brasileira estava ameaçada, porque os fazendeiros estavam destruindo a mata para criar pastagens. E que a única maneira de preservar esse pedaço do Brasil seria entregá-lo aos indígenas, que - desde sempre - souberam viver harmonicamente com a terra. Getúlio concordou e começou o processo de criação do Parque do Xingu.
    "Darcy é o primeiro que se preocupou com nossa terra. A gente tem que manter isso aqui. Porque essa cultura é muito importante. A gente não pode esquecer essa cultura", afirma o Cacique Aritana, índio Yawalapíti.
    Kamukaiaka já tentou a vida na cidade. Foi jogar futebol em Brasília. Mas a saudade apertou e ele voltou para casa. Hoje desenha a história dos Yawalapiti. Começa no tempo em que o Sol ainda era gente.

    3 de ago. de 2012

    Pais que nunca estão lá - Isabel Clemente

     
     
     
     

    Fazia uma prospecção de mercado para decidir o que fazer com cinco dias de férias em julho com as crianças. Meu informante telefônico, com quem travei enorme empatia, passava-me dados sobre um famoso resort na Bahia. Liguei de curiosa, porque desisti da cara empreitada. Mas voltemos à conversa. Ele já sabia que tratava com um casal com duas meninas pequenas.

    - Temos muitas atividades para as crianças…digo, para a mais velha, então, a senhora só precisa vê-la à noite.

    - Não, eu preciso vê-la o dia todo. Ela é muito bonitinha.

    Ele riu. Eu também.

    - Que horror, não é, isso, mas tem muita gente que está preocupado com as atividades para as crianças, a senhora sabe, ter o que fazer o dia todo.

    - Sei. Mas não queremos nada disso. Preciso aproveitar enquanto elas querem minha companhia.

    - Para a pequena, se precisar, indicamos babás. Elas só não dão comida e banho.

    - Rapaz, vou  te falar uma coisa, eu já abro mão de dar banho nela quase todos os dias entre segunda e sexta. Eu só faço a reserva no hotel se puder dar banho nas minhas filhas.

    Rimos os dois.

    Vamos por partes. Brincadeiras compõem o universo infantil e são especialmente bem-vindas nas férias. Chegará o dia em que elas passarão correndo por nós, gritando atrás de outras crianças e pedindo urgente, na velocidade da luz, um batom para a gincana, enquanto eu pergunto ao meu marido se entreguei a necessaire inteira para alguma das nossas filhas ou outra criança por engano. Mas minhas filhas são pequenas. E crianças pequenas querem atenção e colo dos pais.

    Já me perguntaram por que eu vivia cansada quando Carol acordava duas, três, cinco vezes durante a noite. "Você não tem babá?"

    Tenho, mas nunca dormiu no quarto delas, por vários motivos. Nenhum passa pelo demérito da profissional em quem confio e a quem sou muito grata por cuidar tão bem das minhas filhas enquanto estamos fora (só para esclarecer: sou grata mas pago salário, ok? Não aguento mal-entendidos).

    É que no aconchego da noite, perguntas aparecem, histórias e confissões surgem, e eu quero estar lá para ouvir e responder. No escuro do quarto, a criança em eterna batalha contra o sono pede carinho. Quero estar lá para fazer. Na madrugada, pesadelos e sonhos tomam formas. E eu quero estar lá para espantar monstros e confortá-las. Um gemido interrompendo o sono pode indicar febre. Somos nós quem vamos checar.  Porque quando ela chama "mamãe-nhê, ou papai-iê" é mamãe ou papai quem vai aparecer.

    Além do mais, sigo a cartilha de que a babá precisa descansar porque qualquer pessoa cansada perde a paciência com mais facilidade. Mas cada família é livre e soberana para avaliar do que realmente precisa. Há pais e mães que precisam de babás que durmam no quarto. É fato da vida.

    Talvez, e digo isso com toda a sinceridade, não haja nenhum mal, nem no hábito de deixar crianças e babás no mesmo quarto, nem na criança terceirizada. Porque sempre haverá histórias daquela criança que cresceu sob cuidados alheios, foi para o colégio interno, fez intercâmbio, e se acostumou a ver os pais muito pouco, desde tenra infância. Mas tornou-se um adulto ajustado, um filho amoroso, um cidadão exemplar e um ótimo pai. Tudo é possível. No cenário descrito há pouco, a única impossibilidade para os pais é construir a memória deste amor.

    É disso que não abro mão.

    Tem algo muito errado quando os pais não passam um minuto a sós com seus filhos. Saem da maternidade com enfermeira contratada, passam para babás que trabalham 24 horas substituídas por folguistas de fim de semana e feriados, chamadas para brincar, alimentar e dar banho.  Acostumaram-se a delegar. Não precisam ir a festar infantis. Mandam seus assessores domésticos para o "dia da família" na escola. Orgulham-se de nunca ter perdido uma hora de sono, nem quando os filhos estavam doentes. São pais, mas nunca estão lá.

    Depois da festa, voltamos exaustos. Crianças pra lá de Marrakesh, dez da noite. Troca uma, limpa outra como pode, faz mamadeira, escova os dentinhos na boca quase fechada, traz o travesseiro e cobertor, apaga a luz baixa, põe no berço e na cama, sai de fininho. Carol, bêbada de leite, chama. Como mamanhê estava ocupada, o pai apareceu ao do lado do berço, sem camisa. A criança deitada no berço entreabre os olhinhos. O pai pergunta "que foi, Carol?"

    "Papai…cê tá pelado?"

    "Não, Carol, to sem camisa"

    "Ah (silêncio). Papai-i…bota a camisa"

    "Tá, minha filha, e você dorme"

    "Tá bom, papai"

    "Eu te amo"

    "E-te-amu muuuuito mais"

    A outra filha, que devia estar dormindo, riu.

    Quando você ouve uma criança de um ano e nove meses improvisando uma conversa, repetindo frases do filme Enrolados, e ainda pega a mais velha rindo da cena, você lembra que é preciso estar lá e zelar pela memória deste amor.

    Isabel Clemente é editora de ÉPOCA no Rio de Janeiro.

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