Transtorno Bipolar e Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade
Autora: Dra Sonia Palma – Psiquiatra - Conselho Cientifico da Abrata
O Transtorno Bipolar (TB) é um transtorno mental grave e a sua associação com Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é bastante controversa. Em parte isto se deve à definição e os critérios diagnósticos aplicados a criança. Para elas não é exigida a presença da mania (euforia) típica podendo ser substituída por humor irritado, além da forma episódica, característica dos adultos, poderem apresentar-se de forma crônica em crianças. Quando aplicadas estas alterações de critério em crianças, há uma sobreposição de sintomas de TB e TDAH. A esta dificuldade diagnóstica acrescenta-se que muitos sintomas do TDAH também aparecem na lista dos quadros maníacos, criando um grande dilema para os médicos ao tentarem realizar um diagnóstico diferencial entre TB e TDAH.
A irritabilidade marcada associada a significativo descontrole de impulsos é a alteração de humor mais comum em crianças e adolescentes com TB, já que as mesmas tendem a não apresentar apenas humor eufórico como nos quadros clássicos do adulto (Leibenluft e col., 2003; Tramontina e col., 2003).
Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar irritabilidade e descontrole de impulsos, porém, tendem a ser mais pontuais quando associados ao transtorno, ou seja, frente a uma frustração ou contrariedade e após um tempo razoavelmente curto, desaparecem. Normalmente, não há alteração de humor permanente ou mesmo em períodos longos nos indivíduos com TDAH. Na verdade, uma parcela grande das crianças com o transtorno e sem outras comorbidades é descrita como alegre, despreocupada e de fácil socialização. Eventualmente, quando o mesmo se associa ao transtorno de oposição desafiante, a diferenciação entre a oposição constante a regras e irritabilidade pode ser mais difícil.
Wilens e colaboradores (2002) observaram que 26% das crianças pré-escolares e 18% das escolares com TDAH preenchiam critérios para TB. As crianças com TB e TDAH parecem ter início mais precoce da bipolaridade do que as que não tinham TDAH (Faraone, e col., 1997) com idade média de início entre2,6 a3anos quando coexistia com TDAH (Wilens e col., 2002).
De forma similar aos adultos, crianças e adolescentes com TB parecem apresentar história familiar para o transtorno mais freqüentemente positiva do que controles normais, e pais com TB tendem a ter mais frequentemente filhos com o transtorno do que pais sem este diagnóstico (Chang e col., 2003). Portanto, a pesquisa de história familiar de TB é fundamental e pode ajudar o clínico na elucidação diagnóstica. Entretanto, vale lembrar que história familiar negativa por si só não descarta o diagnóstico.
A importância clínica dessa diferenciação e do reconhecimento da associação reside na diferente indicação terapêutica de acordo com a presença de um ou outro transtorno, ou ainda de ambos (Pavuluri e col., 2002).
No tratamento devemos primeiro tratar e estabilizar os sintomas do transtorno de humor com estabilizador de humor e/ou antipsicótico atípico. Somente após a estabilização do humor é que associamos metilfenidato, se persistirem sintomas de desatenção, hiperatividade ou impulsividade residuais. Ao se utilizar antidepressivos, é importante observar piora no quadro ou virada maníaca.
No tratamento devemos primeiro tratar e estabilizar os sintomas do transtorno de humor com estabilizador de humor e/ou antipsicótico atípico. Somente após a estabilização do humor é que associamos metilfenidato, se persistirem sintomas de desatenção, hiperatividade ou impulsividade residuais. Ao se utilizar antidepressivos, é importante observar piora no quadro ou virada maníaca.
Quanto ao uso de estimulantes e a piora dos sintomas maníacos, Carlson e col. (2000, 2003) encontraram baixas taxas de virada maníaca quando estimulantes foram dados para crianças com história de mania, em tratamento para o TB. Quando não ocorrer melhora com uso de estimulantes em crianças com diagnóstico de TDAH, deve-se fazer uma pesquisa de sintomas de bipolaridade.
- Referências Bibliográficas:
- Leibenluft E, Charney DS, Towbin KE, Bhangoo RK, Pine DS. Defining clinical phenotypes of juvenile mania. Am J Psychiatry. 2003;160(3):430-7. Review.
- Tramontina S, Schimitz M, Polanczyk G, Rohde LA. Juvenile bipolar disorder in Brazil: clinical and treatment findings. Biol Psychiatry 2003; 53(11):1043-9.
- Faraone SV, Biederman J, Wozniak J, Mundy E, Mennin D, O’Donnell D. Is comorbidity with ADHD a marker for juvenile-onset mania ? J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1997;36(8):1046-55.
- Chang K, Steiner H, Ketter T. Studies of offspring of parents with bipolar disorder. Am J Med Genet. 2003;123C(1):26-35. Review.
- Pavuluri MN, Naylor MW, Janicak PG. Recognition and Treatment of Pediatric Bipolar Disorder. Contemporary Psychiatry 2002; 1:1-10.
- Carlson GA, Jensen PS, Findling R, et al. Methodological Issues and Clinical Trials with Child and Adolescent Patients with Bipolar Disorder: Report of a Consensus Conference. J Child Ad olesc Psychopharmacol 2003;13: 1-15.
- Carlson GA, Loney J, Salisbury H, et al. Stimulant Treatment In Young Boys with Symptoms Suggesting Childhood Mania: A Report from a Longitudinal Study. J Child Adolesc Psychopharmacol 2000;10: 175-184.
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