Educação e Spinoza: Por que, como e para que educar?
Reprodução social? (1/4)
Baruch Spinoza (1632 - 1677) foi um dos grandes filósofos racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna. Considerado fundador do criticismo bíblico moderno, tem seus pensamentos e sua obra praticamente ignorados por pesquisadores da educação. Sua Filosofia é baseada em três tópicos que são: a subjetividade, a intersubjetividade e a individualidade. Nesse último tópico faremos a interface da educação com NTIC (novas tecnologias de informação e comunicação) à luz dos pensamentos spinozanos. O trabalho sublime de (MERÇON, 2008) que apresenta o aprendizado ético-afetivo como um dos fios de tecitura entre as reflexões de Spinoza e a Educação explicando que só pode ser realizado por potências singulares e jamais equivale à educação organizada através de poderes morais é, por deveras, estrutural para essa sequência de reflexões que apresentaremos. A individualização da educação aparece como alternativa ao modelo reprodutivo exposto nos pensamentos de Spinoza. Já sabemos que é mais fácil individualizar a aprendizagem com a utilização das NTIC. A educação, conforme Spinoza, seria por um lado o conatus da coletividade para a manutenção dos poderes instituídos disseminando afetos passivadores que geram coesão por meio de medos/ameaças e esperanças/recompensas e, por outro lado, poderia ou tentaria promover encontros que nos aproximem de nossas potências para pensar (a personalização/individualização).
Não há aqui nenhuma intenção de formulação de teoria educacional a partir dos pensamentos de Spinoza assim como não há o propósito de desvelar saberes educacionais ocultados nos textos do filósofo. O real propósito é o de buscarmos novos sentidos para a Educação a partir dos instrumentos conceituais que esse filósofo nos oferece e alia-los ao uso das NTIC. Ele explica-nos sobre os “três mitos da educação” que sustentam os mecanismos passivadores ou entristecedores reprodutivistas: Os mitos da falta, o mito do método e o mito da finalidade da educação. Por que, como e para que educar? Afirma que os mitos contribuem para a manutenção dos poderes morais da educação e que, muitas vezes, nos impediriam de conhecer e exercer nossas próprias potências (nossas forças, nossos saberes e fazeres individuais). Esclarece que os mitos são ideias imaginativas geradoras de passividade e a partir deles são governadas multidões em nome de um dever ser. Faz crítica velada a educação formal que, por um lado promove a separação entre os que sabem e os que ignoram e então, por outro lado, apresenta-se como o meio ideal para diminuir essa distância. Essa mesma distância que a educação pretende reduzir, segundo Jacques Ranciére (2002) é, justamente, aquilo que explicaria a sua existência e que, portanto, ela própria não cessaria de reproduzir, ou seja, cria e reforça/alimenta a distância entre as posições de saber e de ignorância e, por fim, apresenta-se como a solução através das operações de explicação. No próximo texto desse tema (2/4) exploraremos o primeiro dos três mitos, o mito da falta e o relacionaremos as NTIC aproveitando o apelo pela individualização que, já no século XVII, fora alvitrado por Spinoza. Clique aqui para acessar o próximo dessa série de quatro textos.
Prof. Sandro Ribeiro – novembro de 2016.
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