O mito da falta é apresentado como nada em si mesmo, ou seja, sua existência como ideia dependeria sempre da comparação que efetuamos entre as coisas. Nada que não lhe tenha sido atribuído como potência não poderia ser considerado como seu e por consequência, como falta. Se nascemos cegos não há falta de visão. Nossa natureza nunca teria tido a visão como potência.
Logo, nesse caso, ser cego não significaria não ter visão. Transpondo para o modus operandi da educação, a separação entre possuidores de saber e não possuidores de saber é a forma que a educação utiliza para ensinar que o desejo se guia pela nossa impotência e não pela potência que há em cada um de nós. Essa questão é crucial e leva ao desejar passivo de todo “aprendiz” e nos afasta de nosso pensar ativo.
Para migrarmos de status de educação passivadora para educação ético-afetiva (ativa) deveríamos deixar de tratar o aprendizado como preenchimento de lacunas e passar a considerar que o que move o desejar ativo é o encontro com nossas próprias forças e nosso intento de seguir ampliando-as, unindo-as a outras potências com as quais intensificamos a atividade do nosso pensar.
Aí entra a tecitura de conhecimentos que seria possível a partir de situações onde o professor proporcionaria ambiência e recursos propícios à união e à tecelagem das várias potências disponíveis no ambiente de aprendizagem. Encontramos aqui um fio que pode e deve ser tecido com os recursos digitais disponíveis para docentes e discentes e que proporcionaria significado pedagógico profundo ao uso das NTIC na aprendizagem de maneira a facilitar a união de todas as potências de cada aprendiz, docente e currículo envolvidos.
Há diversos recursos digitais de uso simples e gratuito que podem servir de apoio a uma educação para longe do preenchimento de lacunas e que considere cada peculiaridade e individualidade dos aprendizes.
Recursos que, conforme a aplicação, potencializarão a busca pelo o que alimenta e deseja cada indivíduo no âmbito de suas escolhas e de seus anseios de ampliação. Não estaria mais em jogo a diferença entre a educação (possuidora do saber) e o aprendiz (não possuidor do saber).
Teríamos sim um espaço de aprendizagem onde cada potência única e específica encontraria os recursos necessários para o seu próprio desenvolvimento autônomo devidamente amparado pelo professor tecedor de saberes e de fazeres. No próximo texto (3/4) apresentaremos nossas reflexões acerca do “como” educar. O mito do método.
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