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18 de mar. de 2008

Depois do susto - Valorizando a vida

Este texto é dedicado aos médicos, enfermeiros e funcionários do Hospital Salgado Filho


Andei sumida por esses idos de março pois minha filha esteve com dengue. Senti meu chão se abrir no dia 10 quando nossa médica verificou que ela contava com 33.000 plaquetas no sangue (o normal é 200.000) e corria risco de vida - era a dengue hemorrágica. Corremos para o Hospital Salgado Filho, onde fomos prontamente atendidas. Não preciso dizer a confusão de sentimentos, pensamentos e medos que tomaram conta de mim naqueles momentos.

Lamentavelmente, o Rio de Janeiro vive uma das mais assustadoras epidemias dos últimos tempos. O número de mortos pela doença, só na capital, já chega a 28. A Secretaria municipal confirmou também que são 2.275 casos da doença apenas no mês de março. Desde o início do ano foram registrados cerca de 19.000 casos de dengue (fora aqueles que não deram entrada nos hospitais e postos de saúde).

Os hospitais, públicos e privados, têm estado lotados, não há vagas para atender a grande demanda de pessoas que os procuram diariamente. E não é por falta de engajamento e boa vontade do corpo hospitalar: sua dedicação é tão intensa que estes médicos e enfermeiros chegam a emendar dois plantões seguidos e ainda são agredidos, incompreendidos, por uma situação caótica que ainda não teve uma solução efetiva.

Nestes 4 dias que fiquei dentro do hospital Salgado Filho vi o grande carinho com que médicos, enfermeiras e funcionários tratam à cada paciente. Presenciei as lágrimas de médicas que estão próximas de se aposentar, lamentando-se do estado lástimável em que a saúde se encontra. Exaustos, estes profissionais não medem esforços para ajudar, seja na coleta de um hemograma, na colocação de um soro, numa palavra amiga ou num breve sorriso. Ali, aprendi a compreender verdadeiramente o valor do profissional de saúde.

Minha filha se recuperou bem e já retornou às suas atividades rotineiras, graças à Deus, mas me pergunto sobre as outras crianças, adolescentes e adultos que passam pelo mesmo tormento. Me pergunto ainda: e aquelas que se foram? por que será que o Governo Federal ou o Governo do Estado do Rio de Janeiro ainda não procuraram uma forma mais ativa de prevenção e combate à dengue?
Fazer campanha publicitária para que não deixemos caixas d´água descobertas, plantas em vasinhos com terra, limpeza e organização de garrafas, pneus e recipientes onde se possa acumular água da chuva, é fácil e é de grande ajuda. Porém, se observarmos bem, no Rio há um sem número de construções e piscinas abandonadas, terrenos baldios, onde a água se acumula da mesma forma. Também podemos observar a falta de canalização de rios e canais, o que acaba se tornando ambiente propício à dengue e à uma série de doenças.

Autoridades estaduais e federais decidiram em uma reunião a portas fechadas criar uma central de regulação de leitos para pacientes com dengue. A partir desta segunda, já estão disponíveis para a população 164 vagas em hospitais estaduais e, nos próximos dias, mais 85 leitos em nove unidades federais, mas ainda é muito pouco, perto do grande número de pacientes que chegam diariamente aos hospitais.
Enquanto ações eficazes não forem postas em prática, enfrentaremos o risco do aparecimento de novas epidemias, bem como a mutação das doenças já existentes. Apenas ontem o Governo do Rio convocou o Corpo de Bombeiros para uma ação emergencial no combate e prevenção à Dengue. O Governador e o Prefeito negam que haja uma epidemia, mas não foi o que o Secretário de Saúde mencionou. Neste jogo de esconde-esconde, esquecem-se que têm telhados de vidro.
Aprendi, nas noites insones em que a incerteza era dominante em mim muito mais do que os livros me ensinaram sobre a caridade e o amor. Aprendi a dor de amar e ver sofrer ali, calada e adormecida, minha estrela radiante. Aprendi mais ainda como a gente pode converter nossa angústia, nossa amargura no auxílio aos irmãos. Isso para mim foi um grande aprendizado.
Abraços

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