O pensamento comunicativo de Jürgen Habermas
Jürgen Habermas é um filósofo e sociólogo alemão.
Advindo da Escola de Frankfurt (uma das principais correntes do marxismo
cultural) procurou superar o pessimismo dos fundadores da escola quando
adota o paradigma comunicacional, assim ele tem como ponto de partida:
- A ética comunicativa de
Otto Von Apel
- O Conceito de ação objetiva – T. Adorno
- Ética de Platão e a lógica de
Aristóteles
- Idealismo Alemão (Hegel)
- Reconhecimento intersubjetiva
- Razão
Comunicativa / Ação Comunicativa
Habermas apresenta a comunicação livre, racional e
crítica como alternativa à razão instrumental e superação da razão iluminista,
aprisionada pela lógica instrumental, que encobre a dominação.
Razão instrumental – Segundo
Aurélio Buarque Ferreira de Holanda, teria uma das
conotações como “Sistema de princípios a priori cuja verdade não depende de
experiência.”
Convém já explicitar sobre a “A noção de razão
instrumental” no dizer de Chauí “[que] nos permite compreender”
- a transformação de uma ciência em ideologia e mito social, isto é, em senso comum cientificista;
- que a ideologia da ciência não se reduz à transformação de uma teoria cientifica em ideologia, mas encontra-se na própria ciência, quando esta é concebida como instrumento de dominação, controle e poder sobre a Natureza e a sociedade;
- que as idéias de progresso técnico e neutralidade cientifica pertencem ao campo da ideologia cientificista.
Razão iluminista – a razão
iluminista é uma razão independente das verdades religiosas e das verdades
inatas dos racionalistas. Assim, a noção de autonomia iluminista se refere a
uma razão que se dobra a evidências empíricas e matemáticas.
O iluminismo proclama tanto para a natureza quanto
para o conhecimento o princípio da imanência (Imanência – Filosofia: Diz-se da
atividade ou casualidade cujos efeitos não passam do agente). Filosofia. Diz-se
de um ser que se identifica a outro ser. (Na filosofia de Spinoza, Deus é imanente
ao mundo.) A natureza e o espírito são concebidos como plenamente acessíveis,
não como algo obscuro e misterioso.
Lógica Instrumental
– Adequação dos meios aos fins.
Habermas explica que a teoria crítica precisa
romper com Marx em três dimensões:
-
Deixar de lado a tendência evolucionista inserida no marxismo- as
sociedades passariam por estágios de desenvolvimento bastante específicos,
o qual teria início com o capitalismo e culminaria num modelo de
organização social comunista;
-
O viés economicista observado na obra de Marx se consagra uma
evidência de forças produtivas e de trabalho em relação às outras esferas
da sociedade
- Considera
uma perspectiva reducionista a tendência de olhar o sistema social através
da separação da dominação.
A sobreposição da burocratização e da monetarização das esferas do
cotidiano social em detrimento da argumentação e participação pública;
interfere no processo de interações sociais.
Habermas observa que na segunda metade do século
XX, o que é visível é uma privatização e mercantilização do espaço público. A
argumentação pública cede lugar aos interesses administrativos e econômicos. O
mesmo pode ser observado em relação às instituições privadas, as quais
são invadidas gradativamente e cada vez regulamentadas pelo Estado ou pelo
dinheiro. Assim as atividades culturais, científicas ou educacionais passam a
ser mediadas por instrumentos e normas que desconstroem as formas tradicionais
dos laços sociais.
A ética do discurso
As fundamentações morais dependem da efetiva
realização das argumentações, não por razões pragmáticas relativas ao
equilíbrio de poder, mas por razões internas relativas à possibilidade de
discernimentos morais.
As interações nas quais as pessoas envolvidas se
põem de acordo para coordenar seus planos de ação são denominadas comunicativas
– é o acordo alcançado em cada caso medindo-se pelo reconhecimento
intersubjetivo das pretensões de validez.
Enquanto que no agir estratégico um atua sobre o
outro para dar ensejo à continuação desejada de uma interação, no agir
comunicativo um é motivado racionalmente pelo outro para uma ação de
adesão - e isso em virtude do efeito ilocucionário de comprometimento que
a oferta de um ato de fala suscita - Que um falante possa motivar
racionalmente um ouvinte à aceitação de semelhante oferta [se explica] pela
garantia assumida pelo falante, tendo um efeito de coordenação, de que se
esforçará, se necessário, para resgatar a pretensão erguida... Tão logo o
ouvinte confie na garantia oferecida pelo falante, entram em vigor aquelas
obrigações relevantes para a sequência da interação que estão contidas no
significado do que foi dito2...
Pretensões de validez -
significa coisas diferentes segundo o tipo de ato de fala de que se trate. Nos
atos de fala constatadores (afirmar, narrar, referir, explicar, prever, negar,
impugnar e etc.), o falante pretende que o seu enunciado (aquilo que é
pronunciado) seja verdadeiro. Portanto, se eu narro alguma coisa, ou explico
algo para alguém eu pretendo que aquilo que narro, ou explico seja considerado
verdadeiro, o que para Habermas só ocorre se houver o assentimento potencial de
todos aqueles que estão me ouvindo. Sendo assim, se um dos meus ouvintes não
aceitar o que falo por não acreditar no que digo, ou por outro motivo qualquer,
o conteúdo que é transmitido não poderá ser tido como verdadeiro, pois não
houve o consentimento de todos sobre a veracidade de meu ato de fala1.
Ação comunicacional
No início de sua obra principal, Teoria do agir
comunicativo, Habermas afirma que “o pensamento filosófico se originou na
reflexão sobre a razão encarnada na cognição, fala e ação; e a razão permanece
sendo seu tema básico”. Não seria uma surpresa, então, descobrir que o
conceito de racionalidade é o fio condutor para sua análise de processos de
aprendizagem3.
A esfera pública para Habermas não pode ser
confundido como a oposição clássica entre sociedade civil e Estado; ao contrário,
a esfera pública representa nesta perspectiva metodológica um terceiro
momento das sociedades modernas, não podendo ser confundida nem com o Estado
nem com o Mercado, ou seja, “Uma esfera composta de sujeitos privados com
opinião própria, o que assegura a possibilidade da contraposição coletiva a
decisões discricionárias do poder público” (Souza,2000:60).
Assim, o agir comunicacional representa todas as
interações em que os membros de uma determinada sociedade discutem coletiva e
publicamente questões relativas a seus planos de ação. Tais decisões tomadas em
conjunto, constituem o princípio de universalização, para que tal aconteça é
necessário a obtenção de um consenso, não que os indivíduos pensem da mesma
forma, mas baseadas na ideia do debate democrático e dessa forma, construir um
conjunto de regras legitimadas socialmente.
Portanto, são “comunicativas as interações nas
quais as pessoas envolvidas se põem de acordo para coordenar os seus planos de
ação, o acordo alcançado em cada caso medindo-se pelo reconhecimento
intersubjetivo das pretensões de validez” (Habermas:2003:78-9)
O Projeto da Modernidade
Outra característica marcante do pensamento de
Habermas é sua defesa do “projeto da modernidade” diante das críticas feitas
pelos pensadores pós-modernos. Por mais que a modernidade tenha trazido
problemas para a humanidade, Habermas tenta analisar, no que ele chama
(seguindo Weber) “o processo da racionalização da sociedade moderna”, um
potencial para a emancipação humana.
Esse projeto necessita de ser completado sem abrir
mão do que já foi alcançado, não apenas no conhecimento, mas também de
liberdade subjetiva, da autonomia ética e da autorrealização, do direito igual
de participação na formação de uma vontade política e do “processo formativo
que se realiza através da apropriação de uma cultura que se tornou reflexiva”.
É esse processo, compreendido como processos de
aprendizagem desencadeados ao longo da História, mas especificamente na
modernidade, que poderia ser considerado um dos fios condutores do pensamento
desse filósofo e teórico social3.
Assim, o projeto da Modernidade tem por objetivo
compreender as normas válidas em uma sociedade e suas consequências a partir da
análise de uma ética discursiva, ou seja, através da discussão pública sobre os
valores, as normas e suas consequências, constituindo assim uma ética laica,
fundamentada em uma sociedade centrada na ciência.
Habermas se diferencia de Durkheim por ver a
síntese fundada em valores e não em elementos empíricos, não como uma verdade
positiva, mas como uma verdade definida pelo uso argumentativo da razão.
Muito embora a teoria da
solidariedade de Durkheim ofereça a Habermas uma teoria social que relaciona
integração social e integração do sistema. Durkheim vê no conceito de
"obrigação" um dos traços constitutivos da norma moral.
Entretanto, a sanção é apenas um aspecto da
aceitação da norma; é preciso levar em conta também o desejo de obedecer. Estas
duas características do fato moral - o desejo e o dever - levam Durkheim a
propor uma analogia entre esfera da moralidade e a do sagrado. Desse modo, a
antropologia durkeiminiana oferece a Habermas um modelo para integrar à sua
análise as ações rituais, que se movem em um nível pré-linguístico, expressando
um consenso normativo atualizado regularmente.
No entanto, o consenso normativo
garantido pelo rito e mediado pelo símbolo constitui o "núcleo
arcaico" da solidariedade coletiva. Em contextos modernos de ação os
símbolos religiosos não são mais capazes por si só de expressar o coletivo. O
consenso normativo que era garantido pelo rito, ancorado nos símbolos
religiosos e interpretado pela "semântica do sagrado" se dissolve e
dá lugar à "verbalização do sagrado”, isto é, estruturas
de ação orientadas para a intercompreensão. A autoridade do sagrado é, assim,
gradualmente substituída pela autoridade do consenso 4.
Portanto, a autoridade moral,
apenas se torna válida quando possui uma “... pretensão a uma validez universal
que vem a conferir a um interesse, uma vontade ou uma norma”(Habermas 2003:68)
Fontes pesquisadas
Sandalowki. Mari Cleise – Guia de estudos
Sociologia III - Universidade Federal de Santa Maria