Começo essa entrada de blog com esta envolvente e crítica reflexão de nossos poetas-sociais, que compreendem como ninguém a sociedade e a boemia brasileira, Chico Buarque de Hollanda e Francis Hime
Estou envolta entre plumas e paetês... minha irmã e eu passamos o dia em nosso ofício de pedagogas desempregadas, aplicando nossos dotes artísticos-educacionais na confecção de fantasias: os piratas da família (rsrsrs).
Foi quando meu filhote hoje de manhã me perguntou porque existia o carnaval. Confesso que na hora me deu um branco: nunca nenhum aluno de 2ª série (3º ano) me perguntou isso antes. Apesar de eu saber o contexto histórico do carnaval e tudo o mais em sua abrangência, resolvi resumir às origens do carnaval no Brasil.
Comecei explicando à ele que o carnaval que a gente conhece começou no Entrudo, que era uma festa muito antiga (medieval), também chamada de festas dos Loucos de Paris (quem já viu o Corcunda de Notre Dame ou já leu o livro, saberá bem do que estou falando.).
Estas eram as festas pagãs, de homens e mulheres livres, ciganos, prostitutas, bêbados, loucos e boêmios. Destas Festas dos Loucos, nasceram os cordões vermelhos e verdes, surgindo mais adiante o cordão azul, até hoje presentes nos autos populares do folclore brasileiro. Nestas festas do entrudo, que aconteciam, mais ou menos 40 dias antes da páscoa, eram regadas à vinho, farras, arremessos de restos de comida e dejetos humanos e de animais.
O Carnaval é trazido para o Brasil pelos portugueses. Entre os ricos, eram festas que aconteciam nos salões, nos teatros, nos bailes de máscaras organizados pela aristocracia eram inspirados no Carnaval de Veneza e da França (os bailes de máscaras - lembrou-se de Romeu e Julieta?!).
Já para a grande parcela da população a forma mais antiga de festejar o nosso Carnaval era o Entrudo, desde os tempos coloniais quando as brincadeiras aconteciam entre os cordões Carnavalescos.
Nisso encontramos os jogos de mela-mela, os homens vestidos de mulher, as águas de cheiro (que não eram perfumadas não...)os confetes e serpentinas (origem francesa), os deboches e os versos satíricos que difamavam as senhoras e senhores de respeitabilidade duvidosa bem como padres e governantes de condutas ultrajantes ao povo, em cantigas melodiosas de versos simples e rimadas que logo caiam no gosto popular. Ah, bons tempos em que as verdades eram ditas com escárnio e poesia...
Mesmo no tempo de minha mãe as coisas não tinham o sentido sensulíssimo esbanjador que se tem hoje. Quando eu era criança já havia fotos quase pornográficas nas revistas especializadas em bailes de carnaval. Uma lástima!!!! Quase não há mais sambas-enredos inteligentes que denunciem ou faça com que o povo reflita sobre sua própria condição social.
Lembro-me do samba-enredo Aquarela do Brasil (1964), tema da GRES Império Serrano em 2006, simplesmente lindo. E incompreendido. Quase ninguém entendeu o repertório de minha escola e ela, mais uma vez, desceu...(Vejam esta maravilha de cenário/ é o episódio relicário/ que o artista num sonho genial/ escolheu para este carnaval/e o asfalto como passarela/ será a tela do Brasil em forma de aquarela)
Uma proposta dinâmica para os professores de história e de língua portuguesa para o início desse ano letivo: trabalhar um ou dois sambas enredos mais marcantes em seus contextos lingüísticos, histórico e sociais. Importante lembrar que todas as modas passam, entretanto, a história e a cultura popular não se apagam, se preservada por uns poucos.
Para que o sentido da alegria carnavalesca não dure apenas nas festas de Momo (outro costume nos deixado pelos Loucos de Paris, o rei dos loucos), a história e o porquê do carnaval devem ser enfatizados como elementos propícios à quebra de gelo, à integração e um início de ano letivo propício ao debate e a alegria de estudar e aprender.
Abraços fraternos e cuidados com os excessos por aí!!
Se beber, não dirija.
Vai transar, use camisinha.
Não provoque, nem se invoque com confusões.
Lembre-se: sua vida é o mais importante!!!
Semíramis
Vai Passar
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque e Francis Hime
Vai passar nessa avenida um samba popular /Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais/Que aqui sangraram pelos nossos pés / Que aqui sambaram nossos ancestrais
Tempo página infeliz da nossa história /passagem desbotada na memória / Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída/sem perceber que era subtraída / Em tenebrosas transações
Seus filhos erravam cegos pelo continente/ levavam pedras feito penitentes/ Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz / Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval, o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos / O bloco dos napoleões retintos/e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar / A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, o lelê,
ai que vida boa, o lalá
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, o lelê,ai que vida boa, o lalá
O estandarte do sanatório geral
vai passar....