Luiz  Carlos D. Formiga
Parte  I
 
Luiz C. Formiga - arquivo VE
"A  religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às  leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de  abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que 'não se tem esse direito?  Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo  estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não  é uma falta somente por constituir infração de uma lei moral, consideração de  pouco peso para certos indivíduos, mas também um ato estúpido, pois que nada  ganha quem o pratica, antes o contrário é o que se dá, como no-lo ensinam, não a  teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as vistas." Allan Kardec ("O  Livro dos Espíritos", comentário à resposta da questão 957).
No  dia 12 de maio de 1979 o jornal "O Globo" reuniu alguns profissionais para  debater o suicídio e suas razões. A reportagem intitulada "Suicídio –  uma doença social de multas causas" merece ser lida porque é matéria  que nos permite inúmeras reflexões. Nela podemos observar que no Rio de Janeiro  os telefones do Centro de Valorização da Vida recebem cerca de 100 ligações por  dia e que em São Paulo há 30 tentativas de suicídio por dia, das quais três são  fatais.
Estatística  sobre o Rio de Janeiro não é mencionada. Estes números chamam a atenção de  qualquer pessoa, principalmente daquelas que ouviram Allan Kardec solicitar  esclarecimentos sobre quais são, em geral, as consequências do suicídio sobre o  estado do Espírito na questão n° 957 de "O Livro dos Espíritos". Observamos lá  que as consequências do suicídio são muito diversas mas que urna consequência à  qual o suicida não pode fugir é o desapontamento.
Os  telefones 248-7171 (durante 24 horas) e 221-7723 (horário comercial) são  atendidos por voluntários que basicamente apenas ouvem os desabafos dos que  estão sob tensão e prontos para cometer o suicídio. Pessoas generosas  diplomacias apenas em "ciência de saber escutar", ouvir pacientemente e, quando  necessário, emitir alguns conselhos. Segundo Informação do engenheiro Normando  Meio de Oliveira Dias, presidente da Sociedade Beneficente Vigília da Amizade,  durante as festas de Natal, carnaval e feriados a procura é muito mais Intensa,  pois as pessoas sentem-se mais sós, mais deprimidas. Outra observação feita é  que durante a novela "Dancing Days", na TV Globo, quase ninguém ligava. Por isso  foi considerada uma boa amiga do Centro de Valorização da Vida, uma vez que  estende sua programação até de madrugada, prendendo e mantendo a pessoa  ligada.
Comenta  ainda o engenheiro que em São Paulo, onde o hábito de se fazer o lazer é  diferente do realizado no Rio, as pessoas potencialmente estão mais protegidas,  menos vulneráveis, pois lá o sentido de família está sempre mais presente.
A  tentativa de suicídio pode ser interpretada como unica conduta destinada a  produzir modificações no ambiente familiar da pessoa que executa a tentativa.  Quando, na realidade, ocorre indiferença, as tentativas têm possibilidades cada  vez maiores de atingir a auto-eliminação. É pertinente lembrar que a Doutrina  Espírita chama atenção para o problema da indiferença humana mostrando em "O  Evangelho segundo o Espiritismo" que o homem de bem (capítulo XVII) possuído do  sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperança de  recompensa, retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e  sacrifica sempre seu interesse à Justiça. E encontra satisfação nos benefícios  que derrama, nos serviços que presta, nas lágrimas que seca, nas consolações que  dá aos aflitos. Reconhecendo-se com relativa facilidade aqueles que realmente  podem ser considerados como espíritas verdadeiros pela transformação moral que  se lhes operou no âmago do ser, e também pelos esforços que empreendem no  sentido de domar, de dominar, de vencer suas inclinações más. O verdadeiro  espírita não pode ser indiferente à dor humana. Essa indiferença geradora de  problemas diversos e que foi recentemente apontada pelos alunos de uma grande  Universidade Brasileira, em "enquête" elaborada pelo Serviço de Orientação ao  Universitário, como uma das maiores limitações do Professor Universitário. Como  se pode observar não basta o alto saber intelectual e se o desejo é de vôo mais  alto é necessário lembrar que o Espírito  de Verdade ensinou "ama-vos e Instrui-vos" e o verbo instruir vem em  segundo lugar.
Como  não se pode falar do tema em questão sem lembrar o Sociólogo Êmile Durkheim, a  Professora Silvia Regina Pantoja, socióloga, comenta suas conclusões que são  indispensáveis. Durkheim assevera que existem homens capazes de resistir a  desgraças horríveis enquanto outros se suicidam depois de aborrecimentos  ligeiros. Seria importante investigar a causa desta resistência diversa e o que  contribui para essa estrutura maior ou menor. Interessante anotar que é nas  épocas em que a vida é menos dura que as pessoas a abandonam com mais  facilidade, o que fez o psiquiatra Miguel Chalub, outro entrevistado por "O  Globo", lembrar que em situações altamente dramáticas, como nos campos de  concentração, o número de suicídios é bem pequeno, o que nos faz concluir que o  amor à vida a tudo supera. Analisando diversos fatores, Durkheim assevera que a  taxa social dos suicídios só se pode explicar sociologicamente. É a constituição  moral da sociedade que fixa em cada instante o contingente dos mortos  voluntários. Os movimentos que o paciente executa e que à primeira vista parecem  representar exclusivamente o seu temperamento pessoal constituem, na realidade,  a continuação e o prolongamento de um estado social que manifestam  exteriormente. A Socióloga Sílvia Regina Pantoja nesta oportunidade comentou que  Durkheim fez uma análise do suicídio procurando desvencilhar-se de todo tipo de  proposta que reúne como causas do suicídio fatores puramente extra-sociais, ou  seja, aqueles que repousam na constituição orgânica e psíquica dos indivíduos ou  nas condições naturais e físicas do meio ambiente. Assim é que Durkheim abandona  as formas como se apresenta o suicídio nos sujeitos particulares para buscar  suas causas a partir do estado dos diferentes meios sociais: família, grupos  profissionais, confissão religiosa, sociedade política, etc… E, como medida  metodológica, se volta depois aos indivíduos para explicar como aquelas causas  gerais se individualizaram para produzir os efeitos suicidas. Ao verificar a  relação entre a frequência de suicídios e a confissão religiosa, por exemplo,  constata que ela é maior entre os protestantes do que entre os católicos e  judeus. Por que no catolicismo e no judaísmo os crentes estão mais preservados  da autodestruição? Isto não ocorre pela natureza dos argumentos religiosos, mas  pela existência de um certo número de credos e práticas comuns, tradicionais e  obrigatórios a todos os adeptos que levam à constituição de uma sociedade.  Conclui o pesquisador que quanto mais estes estados coletivos são numerosos e  fortes, tanto mais a comunidade religiosa está fortemente integrada; tanto mais,  também, é dotada de virtude preservadora. Mais uma vez pode-se observar que o  esforço que é feito por grande parte dos espiritistas no Brasil no sentida de  unidade, além de ser o caminho adequado é antes de mais nada uma necessidade.  Observa-se que a única imposição é que não haja imposição, mas apela-se para a  unificação. É pertinente lembrar que no livro "Obras Póstumas" (Allan Kardec)  encontramos que o Espiritismo é uma doutrina filosófica, que tem consequências  religiosas, como toda filosofia espiritualista; pelo que toca forçosamente nas  bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a vida futura. Não é  ele, porém, uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem  templo, e, entre os seus adeptos, nenhum tomou nem recebeu o título de sacerdote  ou papa. Há uma autoridade coletiva, onde cada qual dispõe de seu voto e que  nada podem sem o concurso uns dos outros. Mas todos estão de acordo acerca de  princípios fundamentais, condição absoluta para sua admissão e para a de todos  os coparticipantes da direção. Comenta Kardec que esta autoridade deverá ser, em  matéria de Espiritismo, o que é urna academia em matéria de ciência.
Quanto  mais integrados os espiritistas mais fortalecida a causa que procura  possibilitar maiores oportunidades de o Indivíduo modificar o seu comportamento  e chegar à harmonia com a sociedade e consigo mesmo. "O Livro dos Espíritos" –  Filosofia Espiritualista – contém os princípios da Doutrina Espírita sobre a  imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as  leis morais, a vida presente, a vida futura e a futura da Humanidade. Seu  codificador Allan Kardec assevera ("Obras Póstumas") que é um dever gravar esta  crença no espírito das massas e é um fato que essa crença é inata, pois todas as  religiões a proclamam. Indaga Kardec por que então não tem dado até hoje os  resultados que se deviam esperar? É que, em geral, tem sido apresentada em  condições, que a razão não pode aceitar. Para que a doutrina da vida futura  produza, de agora em diante, os frutos que podemos esperar, é preciso, antes de  tudo, que satisfaça completamente à razão e à ideia que formamos da sabedoria,  da justiça e da bondade de Deus; que não possa ser desmentida pela ciência; não  deixe no espírito nem a dúvida, nem a incerteza; que a vida futura seja tão  positiva como a presente, de que é a continuação, como o dia seguinte o é da  véspera. Na reportagem de "O Globo" o médico Fernando Marques dos Reis ensina  que há vários suicídios históricos na política de Roma, lembrando o de Bruto,  como está no "Júlio César", de Shakespeare, e chegam até nós com Camillo Castelo  Branco, Santos Dumont e Ge- túlio Vargas. Mas o grande interesse do tema recorda  o médico, está em que o suicida é, antes de tudo, o deprimido, e, como diz o Dr.  Paul Lüth, estudioso de história da Medicina, "a depressão é a doença da época".  Na Alemanha Ocidental, que tem 60 milhões de habitantes, suicidam-se em média 38  pessoas por semana, ou seja, cerca de 14 mil por ano. A Organização Mundial de  Saúde estima em 150 milhões os deprimidos do mundo. Merece registro, como é  comentado em "O Globo", que entre os mais acometidos, nesse capítulo das  depressões, se acham os pastores e os psiquiatras, entre os quais as cifras de  suicídio são oito vezes maiores do que no resto da população. Estas cifras  parecem indicar que, em termos bem realistas, "ninguém salva ninguém e que as  religiões salvadoras não se salvaram sequer".
Pode-se  falar em três tipos de suicídio, segundo a visão de Durkheim, o egoísta, o  altruísta e o anômico. O egoísta é aquele que resultaria de uma individuação  excessiva nas sociedades onde a moral se esforça para incutir no indivíduo a  ideia de seu grande valor, fazendo que sua personalidade se sobreponha à  coletiva. Deve acompanhar o processo outro constituinte que é a vaidade que na  linguagem da moda seria a "inflação" da personalidade. O egoísmo é tema estudado  nas obras básicas da Doutrina Espírita em diversas oportunidades, basta ver o  índice analítico dessas obras. Assim Emmanuel no capitulo XI de "O Evangelho  segundo o Espiritismo" ensina que o egoísmo é a chaga da Humanidade. Comenta o  Instrutor que é o objetivo para o qual todos os verdadeiros crentes devem  dirigir suas armas, suas forças e sua coragem. Coragem porque é preciso mais  coragem para vencer, a si mesmo do que para vencer os outros. Conclama que cada  um, pois, coloque todos os seus cuidados para combatê-lo em si, porque esse  monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho, é a fonte de  todas as misérias deste mundo. É a negação da caridade e, por conseguinte, o  maior obstáculo à felicidade dos homens. Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos"  apresenta-nos diversas reflexões: como destruí-lo, como obstáculo ao progresso  moral, como verdadeira chaga da sociedade. Relaciona o egoísmo à perda de  pessoas amadas, à vida de Isolamento, às desigualdades sociais, às ingratidões,  ao problema da fome e aos laços de família.
A  visão de Durkheim nos mostra outro tipo de suicídio – o altruísta -, praticado  nos meios onde o indivíduo deve abrir mão de sua personalidade e ter espírito de  abnegação e entrega de si às causas coletivas. Por exemplo, o espírito militar,  que exige que o indivíduo esteja desinteressado  de si mesmo em função da defesa patriótica. Nesse particular a questão  nº 951  de "O Livro dos Espíritos" comenta que todo sacrifício feito à custa de sua  própria felicidade é um ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque é  a prática da lei de caridade. Ora, a vida sendo o bem terrestre ao qual o homem  atribui maior valor, aquele que a renuncia para o bem de seus semelhantes não  comete um atentado: ele faz um sacrifício, Mas, antes de o cumprir, ele deve  refletir se sua vida não pode ser mais útil que sua morte. Não devemos deixar de  enfatizar que André Luiz, no livro "Conduta Espírita", recomenda que o ser  humano, no trabalho, deve situar em posições distintas as próprias tarefas  diante da família e da profissão, da Doutrina que abraça e da coletividade a que  deve servir, atendendo a todas as obrigações com o necessário equilíbrio, porque  o dever, lealmente cumprido, mantém a saúde da consciência.
Finalmente,  o terceiro tipo de suicídio – o anômico -, que vem de ocorrer nos meios onde o  progresso é e tem que ser rápido, levando a ambições e desejos ilimitados, O  dever de progredir tira do homem a capacidade de viver dentro de situações  limitadas, tira-lhe a capacidade de resignação e,  por consequência, tem-se o aumento dos descontentes e irrequietos. Nesse  particular a doutrina espírita não poderia omitir-se e em diversas oportunidades  as suas obras básicas discutem o problema da resignação humana. Gostaríamos de  lembrar apenas que no livro "Vinha de Luz", de Emmanuel, este abnegado Instrutor  mais uma vez leciona com propriedade invulgar. "Jesus forneceu padrões  educativos em todas as particularidades da sua passagem pelo mundo. O Evangelho  no-lo apresenta-nos mais diversos quadros, junto ao trabalho, à simplicidade, ao  pecado, à pobreza, à alegria, à dor, à glorificação e ao martírio. Sua atitude,  em cada posição da vida, assinalou um traço novo de conduta para os aprendizes."  Assinala Emmanuel que "as marcas do Cristo não são apenas as da cruz, mas também  as de sua atividade na experiência comum", recordando que "a marca do Cristo é,  fundamentalmente, aquela do sacrifício de si mesmo para o bem de todos". "Todas  as realizações humanas possuem marca própria. Casas, livros, artigos,  medicamentos, tudo exibe um sinal de Identificação aos olhos atentos. Se medida  semelhante é aproveitada na lei de uso dos objetos transitórios, não se poderia  subtrair o mesmo principio, na catalogação de tudo o que se refira à vida  eterna. Jesus possui Igualmente os sinais dele." Não seria a resignação um  deles?
Durkheim  acredita que somente o Estado poderia intervir, o único capaz de reconstituir as  relações indivíduo-sociedade. Nem mesmo a família, a religião podem fazê-lo.  Para a socióloga Sílvia Regina Pantoja, somente o Estado que olhasse para os  grupos profissionais, e não aquele que privilegiasse a ênfase econômica. Aqui  nos lembramos do capitulo "As aristocracias" – do livro "Obras Póstumas".
Em nenhum  tempo ou nação, os povos dispensaram chefes, ainda mesmo no estado de  selvageria. É assim porque, em razão da diversidade de aptidões e de caracteres,  que se dão na espécie humana, há sempre incapazes que precisam ser dirigidos,  fracos que reclamam proteção, paixões a combater: dai a necessidade de uma  autoridade. Sabemos que nas sociedades primitivas a autoridade foi conferida aos  chefes de família, aos anciãos, aos velhos, aos patriarcas. A força bruta a  segunda aristocracia. Em seguida aristocracia do nascimento. Elevou-se novo  poder – o do ouro que foi seguido de outra mais justa – a da Inteligência.  Entretanto o homem mais inteligente pode fazer mau uso das faculdades. Por outro  lado, a simples moralidade pode não ter capacidade. É, pois, necessária a união  da inteligência e da moralidade para haver legítima preponderância, a que a  massa se submeterá, confiada em suas luzes e justiça. Será esta a última  aristocracia, durável porque será animada por sentimentos de justiça e caridade.  Supremacia que Allan Kardec chamou de aristocracia intelecto-moral. É por isso  que a Doutrina Espírita, que em 1857. Inaugurou a era do espírito imortal,  afirma que é pela educação, mais ainda do que pela instrução, que se  transformará a Humanidade. O homem, que trabalha seriamente em seu melhoramento,  assegura sua felicidade desde esta vida, além da satisfação da sua consciência;  está livre das misérias materiais e morais, que são as consequências forçadas de  suas imperfeições; terá calma, porque as vicissitudes não o afetarão senão de  leve; terá saúde, porque não esgotará o corpo com excessos; será rico, porque o  é quem se satisfaz com o necessário; terá a paz da alma, porque não terá  necessidades impossíveis; não será atormentado pela sede de honras e do  supérfluo, pela febre de ambição, da inveja e do ciúme. Nós relembramos – não se  suicidará.
O  Psiquiatra Miguel Chalub, em "O Globo", chama a atenção para o perfil do  suicida: homem, com mais de 55 anos, morador de grandes cidades, AGNÓSTICO  (Agnosticismo – doutrina que afirma a impossibilidade do espírito humano de  conhecer as realidades que transcendem o mundo sensível ou natural), socialmente  isolado, fisicamente doente, sem antecedentes psiquiátricos e alcoólatra  moderado. O perfil dos que tentam o suicídio: mulher, jovem, de boa saúde  corporal, em situação de conflito evidente com o grupo familiar ou social mais  imediato. As estatísticas sobre suicídio demonstram claramente que se associam  positivamente ao suicídio em ordem decrescente de importância e significação as  pessoas na seguinte situação: sexo masculino, idade avançada, viuvez, celibato  ou divórcio, ausência de prole, residente em grande cidade, alto padrão de vida,  crise econômica, consumo de álcool e droga, lar desfeito na infância e doença  mental ou física. Inversamente, isto é, associam-se negativamente ao suicídio:  sexo feminino, juventude, baixa densidade populacional, religião, casamento,  prole numerosa, baixo padrão de vida e situação de guerra.
Ainda,  o Psiquiatra Miguel Chalub acentua que o suicida não quer matar a si próprio mas  alguma coisa que carrega dentro de si e que sinteticamente pode ser: a)  sentimento de culpa e b) a vontade de querer matar alguém com quem se  identifica. Como as restrições morais o impedem, ele acaba se autodestruindo.  Assim "o suicida mata uma outra pessoa que vive dentro dele e que o incomoda  profundamente". O Psicólogo Adler e o Psicanalista Ralph fizeram comentários  muito pertinentes quando disseram que todos os fracassados: neuróticos,  psicóticos, criminosos, bêbados, crianças-problema, SUICIDAS, pervertidos e  prostitutas dão à vida um sentido privado. Aninhado nas raízes inconscientes  está sempre o grande fator que influencia a conduta consciente – o egoísmo. Um  fator a mais está sempre presente, a obsessão, a influência. maléfica,  intencional ou inconsciente, exercida por Espíritos Imperfeitos sobre a  Humanidade encarnada, de modo prolongado. Nesse particular a Doutrina Espírita  lança luz sobre o problema e a Psiquiatria parece receber essa contribuição,  como se pode perceber consultando-se o "Reformador" ano 99, mês de janeiro de  1981. Na página 16 vamos encontrar o "Modelo terapêutico psiquiátrico-espírita"  que o Professor Pedro de Oliveira Mundim apresentou em Mesa-Redonda no I Forum  Brasileiro de Medicina da Pessoa, Presidente Prudente, São Paulo, em 18-10-1980.  Assim, a obsessão poderia ser definida como um constrangimento que um indivíduo,  suicida em potencial ou não, sente, graças à presença perturbadora de um ser  espiritual. Vale a pena ler a descrição feita por Allan Kardec, em "O Livro dos  Médiuns", capítulo 23.
Pergunta  que nos assalta é como se sente o suicida após a desencarnação. Diversas são as  obras que comentam o assunto, assim temos como exemplo "O Martírio dos  Suicidas", de Almerindo Martins de Castro, e "Memórias de um Suicida", de Yvonne  A. Pereira. Por outro lado não podemos esquecer que Allan Kardec, no livro "O  Céu e o Inferno" ou "A Justiça Divina segundo o Espiritismo", deixa enorme  contribuição em exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal  à vida espiritual e especificamente no capítulo V da segunda parte, onde cuida  dos suicidas.
Parece  interessante resumir que após a desencarnação, não há tribunal nem juízes para  condenar o espírito, ainda que seja o mais culpado. Fica ele simplesmente diante  da própria consciência, nu perante si mesmo e todos os demais, pois nada pode  ser escondido no mundo espiritual, tendo o indivíduo de enfrentar suas próprias  criações mentais.
Continua  Parte II [em breve publicação aqui no Visão Espírita e todas as  referências]
Address: http://visaoespiritabr.com.br/moral-crista/por-que-as-criancas-se-suicidam